Olá!
Não tenho aparecido aqui nos últimos dias por conta do começo das aulas. Estudar e trabalhar é algo um pouco cansativo, pois saio de casa 5h da manhã e retorno apenas ás 23h. Então acaba sendo um pouco puxado. Mas, o importante é dar conta no final do semestre, então está ótimo.
Hoje eu não quero falar sobre dieta e peso, pois não tenho me pesado e a dieta tem estado um caos. Então, é melhor deixar esse assunto para o final do mês ou começo de setembro, onde terei que me pesar e acordar para a realidade. Em suma, hoje quero falar não exatamente sobre o dia dos pais, mas sim sobre o que ele lembra: o fato de ainda ter um pai e como me sinto sobre isso e sobre a existência do meu.
Quem acompanha o blog está acostumado a me ver falar vez ou outra sobre minha mãe e o quanto gosto dela e etc, mas raramente falo do meu pai, então quis falar um pouco sobre isso hoje. Talvez com a intenção de apenas registrar sobre o assunto, ou talvez eu queira de fato "desabafar" algumas coisas sobre o tópico. Então, vamos lá!
Estive relendo alguns posts meus bem antigos, da época da adolescência — entre meus 16 até 18 anos —, e percebi que nas vezes em que falava do meu pai, eu só reclamava. A verdade é que ele sempre foi uma pessoa difícil... Isso não significa que eu não goste dele, por mais que preferiria não gostar. Ás vezes é mais fácil apenas não sentir nada ou sentir algo negativo... Admitir que no fundo eu gosto dele é complicado. Meu pai nunca foi de demonstrar muito afeto — infelizmente, eu também sou assim — e diante disso, sempre fui obrigada a sentir que ele gostava de mim (ao menos um pouco) através de seus gestos — e novamente, eu também sou assim, costumo demonstrar que sinto apreço por alguém através de gestos, que infelizmente, nem sempre são compreendidos e a pessoa pode pensar que não gosto dela, mas não é bem assim...
Retomando... O que quero dizer, é que aprendi a perceber que talvez ele goste de mim — ou tenha gostado em algum ponto de sua vida — através de seus gestos. Meu pai sempre foi meio mão de vaca, hahahahaha, Sério. E quando eu era mais nova — entre meus 11/12 anos —, sentia que meu pai gostava de mim quando ele me dava algum dinheiro. Não precisava ser muito... Algumas vezes era 10 reais para gastar em uma doceria, em outras 50 reais — que à mais de 10 anos atrás era uma quantidade significativa — e em outras vezes, ele me surpreendia com um presente que eu não esperava, como por exemplo, meu mp3, que na época que foi inventado era meio caro... Depois, eu me lembro do dia em que ganhei meu mp4 e no quanto eu amava aquele aparelho, mas eu não gostava dele pelo o que ele era e sim por quem tinha me dado: meu pai. Lembro também do meu primeiro celular (que devo ter ganhado aos meus 12 anos), que era um daqueles da Nokia, da cor azul e bem estilo "tijolo", mas na época era lançamento e etc... E lembro de na época nem pensar em ter um celular e nem ter pedido um para ele. De repente, ele tinha dado um celular para mim e outro para minha irmã. Como eu disse, ele era mão de vaca, mas o que ele dava para uma filha, ele dava para a outra. Resumindo, são coisas assim que fizeram com que eu gostasse dele, esses gestos inesperados mas que mostravam que ele sentia algo... Mas não apenas isso: objetos caros ou dinheiro no bolso. Ele me proporcionou alguns momentos dos quais me lembro com certo carinho...
Meu pai sempre foi muito metódico e gostava das coisas "certas" e do jeito dele — o que também me lembra um pouco. Então, quando ele deixava minha irmã e eu jogarmos os colchões na sala e dormir ali, era ele deixando o controle e frescuras de lado para nos deixar sermos felizes um pouco. Houveram também as vezes em que íamos à praia — nessa época meus pais ainda eram casados, então, de vez em quando, havia aquela sensação de pertencer a uma família "padrão" — e vou citar em tópicos alguns momentos que me marcaram até hoje, quando íamos ao litoral:
— Meu pai costumava nos levar nessas lojas "á partir de 1 real" e nos deixar escolher o que queríamos. Normalmente, eu comprava kits de caneta em gel, lembrancinhas para minhas amigas, cadernos para escrever, diários com cadeados... E ele costumava dar um valor X que podíamos gastar, mas lembro de passar o valor algumas vezes e ainda assim, ele acabar me deixando levar o que eu tinha pegado;
— Nas noites em que o tempo estava bom, lembro dele nos levar à sorveteria, onde tomávamos sorvete como uma família normal, e antes da sorveteria, ele costumava nos levar em uma feira de artesanatos, onde eu sempre comprava pulseiras, colares, anéis e brincos. Minha mãe também comprava algo para ela, o que é significante, pois como ela não trabalhava na época, era ele quem pagava as coisas dela;
— Lembro de algumas noites ele fazer cócegas em mim. Eu tinha muita cócegas nas coxas e lembro que ele me "atacava" quando estava de bom humor e eu chegava a chorar de tanto rir por conta das tais cócegas. Realmente, são boas memórias...
Infelizmente, essas são as únicas lembranças boas que tenho dele. E novamente, infelizmente, eu consigo lembrar de pequenos detalhes que mancham todas essas lembranças. Por isso disse no início que é um relacionamento complicado... Hoje em dia, nos damos bem, mas porque não nos falamos por mais de 5 minutos, e isso não é legal. Ainda em tópicos, vou citar o que mancham essas lembranças:
— As milhares de vezes em que ele confiscou os presentes dados por conta de "algo errado" que eu fiz. Por exemplo, ele confiscava meu celular muitas vezes por eu não dormir na hora em que ele queria. Confiscou o tal mp3 e posteriormente o tal mp4 apenas por achar que eu estava escutando música que não presta, ou até mesmo escondia o moldem do computador por estar irritado com minha mãe, nada relacionado com as filhas, mas pagávamos por isso;
— As vezes em que íamos ao litoral e ele se recusava a sair com a gente — minha mãe, irmã e eu —por apenas estar em um mau dia e ele dizia que a culpa era da minha mãe que o tinha irritado — normalmente, ela tinha mesmo o irritado, mas apenas por chamar atenção dele por ele ter bebido demais ou algo assim;
— Em suma, as tantas vezes em que meu pai brigou e/ou ficou de cara feia com a minha mãe por terem brigado por algo que ele havia feito: ou tinha sido grosso com ela ou tinha bebido além da conta. Normalmente, as duas coisas andavam junto: ele bebia além da conta e se tornava facilmente irritável.
Esse post está ridiculamente grande. Mas, a verdade é que ele é mais para mim do que para qualquer outra pessoa, então não fico ofendida por ninguém ler, porém eu preciso "falar".
Ainda sobre os tais gestos que denotam algum tipo de afeto, meu pai mantém isso até os dias atuais. Como eu disse, não nos falamos muito hoje em dia, mas a realidade é que ele mora na casa ao lado da minha. De vez em quando eu o vejo... Algumas vezes ele não fala muita coisa, além de me dar um bom dia e depois ficar fazendo carinho em algum dos meus cachorros, como quem faz graça para chamar algum tipo de atenção. Outros dias, ele pergunta coisas óbvias e levianas, do tipo "Vai trabalhar hoje?", "Sua mãe foi trabalhar?" e coisas assim, que ele já sabe a resposta, mas é como se quisesse puxar algum assunto que ele sabe que não vai vir. E, em outros dias, ele pede para eu esperar um minuto e sobe até a casa dele, descendo em seguida com algum bombom, ou coisa assim... Algumas vezes eu acredito que ele só está dando o que seja porque está vencendo, ou sobrando de alguma forma. Em outras vezes, eu sou mais otimista e tento acreditar que é a forma dele de fazer algum tipo de "agrado" hoje em dia, já que não temos mais nenhum momento juntos.
Enfim... A última coisa que quero deixar registrado, pois tenho receio do tempo apagar essa lembrança, é sobre as vezes em que meu pai ia viajar por algum motivo — normalmente, para a casa que tínhamos na praia para "trabalhar na construção dela", algo que com o tempo eu descobri que ele ia para Itanhaém sim, mas beber com os amigos e não "construir" alguma coisa, tanto que esse ano o terreno dessa casa foi vendido, porque ela nunca foi e jamais seria terminada... — e nessas viagens ele costumava ficar três dias ou até uma semana fora. Eu lembro de pegar as roupas dele e ficar sentido o cheiro, pois ele usava um perfume bem marcante e que até hoje me lembro da fragrância, e eu chorava... Eu chorava sentindo saudades dele, pois realmente gostava do meu pai naquela época. Não que hoje eu não goste, pois sei que no fundo eu gosto, por mais que queira negar... Mas, hoje em dia, o sentimento é bem mais leve, é mais um "gostar" pelo fato de ser meu pai e é isso. Mas, quando eu tinha meus 4 até uns 9 anos, eu realmente o amava. Eu lembro de ter achado ele incrível até uma certa época da infância. Mas, a gente cresce e aprender a ver a vida como é e não como queremos que seja...
Eu realmente escrevi muito, mas é porque eu precisava. Tinha que colocar algumas coisas para fora sobre meu pai. Sei que ainda não coloquei tudo o que queria para fora, mas sei que estou no caminho certo para digerir essa parte da minha vida. Estar cursando psicologia me incentiva muito a resolver essas pendências emocionais, para que eu me torne uma pessoa 100% resolvida e possa ajudar o próximo sem ter feridas que possam se abrir com o tempo por conta de algum gatilho ou algo assim. Eu quero realmente superar tudo o que passei e não apenas fingir. O que me lembra de falar sobre ter sido molestada na infância pelo irmão da minha mãe, mas isso fica para outro post, claro...
Finalizando esse post, eu quero apenas dizer que atualmente, eu compreendo que meu pai fez o que podia e conseguia fazer na época. O contexto familiar dele não é dos melhores. A mãe era desleixada e o pai eu imagino que fosse muito rígido. Acabou que ele se tornou um pai que não sabia bem como agir e na cabeça dele, tenho certeza que ele foi melhor do que os pais deles e tão bom quanto ele conseguia ser. Eu também não fui a filha perfeita e está tudo ok... Eu acho. Espero ter a chance de ter uma conversa franca com ele antes dele morrer e deixar claro que não o culpo e que sou grata pelos bons momentos...
Vou deixar aqui uma foto dele para que o conheçam... Normalmente não posto fotos, mas que se dane. Essa sou eu, aos 12 anos, com meu pai, mais de uma década atrás, mas serve para conhecê-lo:
A qualidade da foto é péssima, mas é uma foto da foto da foto? Então, me desculpem... Mas dá para perceber como eu gostava dele, pois estava no seu colo. Eu só sentei no colo de duas pessoas nessa vida: da minha mãe e do meu pai. Essa foto tem 17 anos... E no entanto, é como se fosse ontem. Enfim...
Caso alguém tenha lido toda essa ladainha, espero que tenha gostado de saber um pouco mais sobre a dinâmica pai/filha que eu tive. Espero que alguém se sinta representado, pois mesmo não sendo a melhor das relações, é alguma coisa e faz parte do que sou hoje.
Espero ser mais breve no próximo post. É isso... Eu acho.